Viver de digital não deveria ser libertador?

Os Formagios
5 min readSep 9, 2020

No início da pandemia todo mundo jurou que iria se debruçar em cursos, livros e projetos para fazer essa ser uma época extremamente produtiva e transformadora!

Homem frustrado

O cartão de crédito chegava a tremer de tanto curso comprado a partir de março. Livros e mais livros iam se empilhando do lado da cama ou no Kindle. Era o monte Olimpo do conhecimento se formando.

As pessoas começaram a usar as redes sociais para fazer dinheiro numa forma de driblar o desemprego ou mesmo aumentar sua renda e quem sabe chegar a tão sonhada independência financeira.

Pulamos para quase 5 meses depois.

Continuamos trancados dentro de casa ansiosos e provavelmente com a conta bancária BEM longe do esperado no início da pandemia.

O que aconteceu no caminho?

Você do nada é obrigado a ficar dentro de casa, talvez até sozinho(a) pela primeira vez na vida. Ou talvez com seu parceiro(a).

Que sensação gostosa essa, né? É tipo de um Big Brother versão "inferno".

Bom, já que você ganhou algumas horas, você resolve usar este tempo extra para se tornar uma pessoa melhor e tirar o atraso de tudo que não fez nos últimos anos.

Do nada você está navegando na internet e começa a ouvir promessas grandiosas que te ajudarão a finalmente levar sua voz para o mundo, achar seu propósito e ser muito bem remunerado por isso. Cara, isso é perfeito!

Aí começa aquele processo que talvez você conheça: post no Facebook, criação de grupo no Telegram, vídeos no Youtube, dezenas de posts no Instagram, milhares de Stories diários, lives várias vezes por semana.

Passa alguns meses e você não aguenta esse ritmo, principalmente quando os resultados não chegaram como você esperava e como te prometeram. Mas não era tão simples?

Não, nunca é!

Muitos se apegaram apenas ao resultado e a parte romântica de "trazer sua paixão para o mundo. Todo mundo quer te ouvir". Segundo Hollywood, quando você resolve gritar aos quatro ventos algo que você é apaixonado, todo mundo vai parar para te ouvir e no fim te aplaudir. Ou no caso do digital: passar o cartão.

Mas antes disso você precisa gerar uma quantidade insana de conteúdo e servir aos outros. E a realidade é que a maioria das pessoas não vai aguentar esse tranco.

É igual pensar em um belo corpo. Todo mundo quer ter um corpo bacana, só que ir para academia, abrir mão de certos tipos de comida, comprar suplementos e ficar dias dolorido é a realidade que muitos não enxergam no calor da emoção ao verem os belos corpos esculpidos no Instagram.

É a a maioria desiste quando descobre a dura realidade.

Eu desisto de muita coisa também quando vejo qual é a realidade. Minha mente sempre se apega aos resultados primeiro. Depois que essa avalanche de êxtase passa, a realidade fica. E se confrontar com ela não é tão bacana assim. Droga!

Cinco meses gerando conteúdo insanamente e não ver o super resultado é desanimador e cansativo.

Viver de digital é cansativo. E poucos falam sobre isso!

Diferente de outras áreas que você na sexta-feira deixa os arquivos na firma, apaga a luz e vai embora, digital é um modelo de negócio que te deixa refém dele, principalmente porque ele se confunde com sua vida pessoal.

A mesma rede social que você vê seus familiares também é onde você ganha seu pão. Entrar no email para pegar o código do Whatsapp ou do Uber e ver uma nova venda, ou não ver nenhuma, é algo que se torna comum para nós.

É um mundo complexo e conflitante que não fomos ensinados a entender e principalmente a separar.

Chega um momento que nosso corpo grita. Não era isso que ele esperava. Isso não é tão divertido assim. Cadê a praia, o sucesso, a independência financeira e fazer seus próprios horários? Eu jurava que vi isso em vários vídeos de anúncio de cursos.

Fica difícil de ignorar tudo isso. Principalmente para quem só queria se aventurar no digital, tirar uns trocados e contar sobre seu conhecimento e sua paixão para todos.

Como diria Byung-Chul Han, nós viramos a sociedade do cansaço. Levar esse ritmo não é para a maioria das pessoas. E as que estão levando, uma hora a conta chega.

Não é normal realmente ver seu trabalho e vida social virarem um só. Não é normal você precisar da validação dos outros 24 horas por dia por meio de likes, compartilhamentos, vendas, número de seguidores subindo ou caindo, número de pessoas presentes na live. Nós vivemos num mercado extremamente volátil, competitivo e emocional. Ênfase no emocional.

Nós somos testados a cada novo movimento e dia!

Isso cansa. Principalmente porque do dia para a noite você descobre que precisa adquirir 100 novas habilidades: criar tráfego, mexer no Canva, escrever, entender regras de português, se expor na frente da câmera, criar legendas que chamem atenção, tirar foto, editar vídeos, ter uma escrita persuasiva, Google Analytics, tags, Facebook ads, criar email, configurar DNS, aprender a negociar, ser suporte técnico, entre milhares de outras coisas que NÃO faziam parte da sua rotina antes.

Detalhe: você ainda não vive exclusivamente do digital, ou seja, muitos ainda tem uma carga extra de cuidar da família, fazer seu trabalho padrão, estudar, entre tantas outras coisas.

Não, você não é mole ou desmotivado. Esse é um discurso superficial e cruel de muitos vendedores de sonhos!

É com isso que muita gente se deparou depois de meses nessa emoção da busca por trás dos resultados rápidos e gigantescos.

Enquanto a busca continuar sendo feita desta forma, muitos ficarão pelo caminho doentes, mal pagos e duvidando ainda mais de sua capacidade, afinal, parece que todo mundo está vencendo neste jogo, menos você.

Mas não precisa ser assim. Você não precisa desistir do seu sonho de viver do seu conhecimento e paixão. Só que quanto antes você compreender que isso é uma construção de médio/longo prazo, mais simples e leve ficará esta jornada.

Quanto antes você compreender que isso exige que você adquira novas habilidades, menos você se cobra também. Aprender novas habilidades leva tempo. Agora imagina aprender centenas de novas habilidades. Respira!

É cansativo, mas não precisa ser. Mude a lente que você olha para tudo isso. Tenha mais paciência e compaixão com sua jornada. Quanto menos você se comparar com o outro, melhor. Quanto menos você se cobrar de resultados rápidos, melhor.

A pandemia vai acabar e o mundo continuará existindo, sua paixão continuará existindo, haverá mercado normalmente. Na verdade, a cada dia todos os mercados crescem mais e mais com a população aumentando e envelhecendo. Não caia no conto do "mercado saturado".

Respire e tenha mais paciência e aprenda a olhar a médio e longo prazo os seus projetos. Talvez essa seja uma habilidade que todos nós tenhamos que adquirir: aprender a ter mais paciência com o tempo e conosco.

Você não precisa ficar doente para conquistar as coisas que busca. Quando você entende que o jogo é de um ano, cinco ano, dez anos, trinta anos, você aprende a se cobrar menos e comemorar cada micro vitória. E você tem mais leveza e motivação para continuar a sua jornada no seu ritmo!

Aprenda a curtir a sua jornada ou ela poderá ser curta!

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